quarta-feira, 23 de setembro de 2009

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quinta-feira, 17 de maio de 2007

Cartola – Música para os olhos

por: George Silvério Figueiredo

Repetindo o atraso do mercado fonográfico, que demorou meio século para reconhecer sua música, após quase 30 anos da morte do sambista Cartola o cinema reconhece o valor e a poesia de sua vida. O filme Cartola: Música para os olhos, do pernambucano Lírio Ferreira (Baile Perfumado, Árido Movie), é um documentário que utiliza o mestre da Mangueira como ponto de partida para contar a história do samba e da malandragem carioca no século XX.

No documentário, Lírio Ferreira foge da linguagem convencional e freqüentemente monótona do gênero. O diretor mescla imagens de arquivo, interpretações de músicas do mestre por nomes consagrados da música nacional intercaladas às próprias atuações improvisadas de Cartola, depoimentos de amigos próximos, seqüências de ficção e outros recursos que permitem narrar de forma instigante a vida do sambista e de seus parceiros.

O resultado é um filme leve, que pretende informar o espectador sem as amarras comuns a documentários tradicionais. Há muita informação no filme, mas o entretenimento e a musicalidade não foram relegados a segundo plano. E nem poderia ser diferente em um filme que trata da vida de um boêmio inveterado, símbolo da malandragem e da alegria carioca. Tal qual o sambista, o filme não obedece padrões pré-estabelecidos, mesclando imagens que se sucedem de acordo com a necessidade da narrativa, e não exigências históricas, documentais ou lineares.

Esse mosaico de linguagens presente no filme segue uma tendência atual. Utilizando os mesmos recursos, o diretor Miguel Faria Jr. filmou Vinícius, que trouxe para o cinema a tumultuada (no melhor sentido que essa palavra possa ter) vida do poeta Vinícius de Moraes e alcançou o feito de ser o documentário brasileiro mais visto de todos os tempos. Mas o filme de Lírio Ferreira consegue ser ainda mais ousado, ao utilizar experimentações de linguagens inovadoras, como o uso do fade out -ausência de imagens na tela- para simbolizar uma época em que não havia notícias sobre Cartola, a marcha (a ré) de militares simbolizando o retrocesso do país com o golpe de 1964 e a sobreposição de imagens da II Guerra Mundial e a cantora Carmen Miranda, contextualizando as diferentes décadas acompanhadas pelo filme.

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segunda-feira, 14 de maio de 2007

Cartola – Um talento ainda não explicado

por: Natália Santos Vieira

Mesmo não sendo uma fiel biografia Cartola – Música para os olhos vale a pena por resgattar a memória de um dos principais compositores da música popular brasileira. O fascínio despertado pelo sambista consegue sustentar sozinho grande parte da obra. O diretores pernabucanos Lírio Ferreira e Hilton Lacerda trouxeram para o filme Cartola um contexto de reconstituição histórica e biográfica que vem desde a década de 90, linha experimentada em Baile Perfumado, filme de 97 em que trabalharam em parceria. A obra soa como uma homenagem nesse ano em que o compositor completaria cem anos.

Quase uma década se passou desde o projeto até a exibição do documentário. Repleto de imagens de arquivo e depoimentos de amigos e familiares do compositor o filme não se prende em detalhes perdendo por vezes a referência ao personagem. A detalhada pesquisa de imagens de arquivo garantiu, no entanto, que o filme se tornasse também um registro da história do audiovisual brasileiro.

Em busca de uma linguagem menos convencional para o documentério Ferreira e Lacerda tentaram se aproximar do estilo de Júlio Bressane em Brás Cubas (1985). Para reconstruir Cartola, sem no entanto explicá-lo, a solução foi representa-lo dentro de seu tempo. Os registros usados não são inéditos, mas são tão pouco conhecidos que, para muitos dos expectadores, parecerão relíquias.

Mesmo entre erros (como a cena em que a tela se torna negra para indicar o período em que não se sabe muito sobre o compositor) e acertos (quando a câmera passeia por uma foto de Cartola e amigos no Zicartola para ilustrar a música Peito Vazio) o filme consegue exibir grande parte da trajetória pessoal e musical do compositor o que satisfaz a curiosidade da maioria dos expectadores. Mas faltou falar do nariz do sambista. A explicação incompleta é dada pela neta, que resume como sendo apenas uma cirurgia plástica que deu errado.

A qualidade da trilha sonora chega a emocionar. No filme foram usadas 35 músicas recolhidas em arquivo, cantadas tanto pelo compositor quanto por intérpretes como Elza Soares, Beth Carvalho e Elizeth Cardoso. Cenas do filme Rio 40 Graus são utilizadas para ilustrar a temática da compra e venda de sambas. Algumas gravações domésticas em fita cassete, programas de rádio, fotos e jornais também foram recuperados.

É um ótimo filme para os admiradores do samba em geral, mas para os aficcionados em Cartola muito da vida e da personalidade do talentoso sambista ainda continua sem explicação.

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sexta-feira, 11 de maio de 2007

Um palavrão soprado

por: Hermano Chiodi Freitas


Oscar Niemeyer, a vida é um sopro. Belo filme, belas imagens. Um filme redondo, sem quinas e sem atritos. Um filme como tem que ser um filme sobre Niemeyer. No ano em que completa seu centenário de vida, dia 15 de dezembro, o arquiteto ganha de presente um documentário sobre sua obra. Não vá ao cinema esperando conhecer a biografia de Niemeyer. O filme é uma grande e merecida homenagem. Conta através de imagens e depoimentos a história profissional do arquiteto. Não apresenta informações inéditas, mas é um filme que merece ser visto.

Mais do que protagonista, Niemeyer é o anfitrião daqueles que entram em sua vida. Ele conduz e determina o que será visto e como será visto. O filme é uma aula de arquitetura e não apresenta críticas. Para todas as opiniões contrárias, Niemeyer apresenta sua defesa. Por exemplo, “dizem que meus projetos não são práticos. Eu fiz a sede do partido [comunista Francês], dez anos depois eles me chamaram para fazer o prédio do jornal [Le Humanité], significa que funciona, se não funcionasse não me chamavam”. Para as críticas que não tem resposta, a resposta é pronta “tudo tem que explicar. Mediocridade ativa é uma merda”.

Merda é a marca do vocabulário no filme, mas não é um problema. Diante de imagens tão belas, o vocabulário é um detalhe, um toque de bom humor e descontração que desloca a aula do mestre de sua linha reta e previsível. Pensamentos sobre a vida e arquitetura são desenvolvidos utilizando um amplo leque de palavrões, o próprio conceito de Niemeyer sobre a existência, “a vida é um sopro”, é acrescido de outro: “A vida é isso – nasceu, cresceu, morreu, fudeu-se”. Para Niemeyer, a arquitetura é o “momento da invenção” e “é feita para os ricos”, mas ao menos serve para os pobres admirarem a beleza quando passam em frente.

O filme resgata registros iconográficos importantes sobre a construção de Brasília e da Pampulha em Belo Horizonte, discursos sobre a criação do prédio do Ministério da Educação e Saúde no Rio de Janeiro, atual Palácio Gustavo Capanema, depoimentos do arquiteto Lúcio Costa e uma entrevista com Jean-Paul Sartre durante sua visita ao Brasil falando sobre a revolução Cubana. Inserções que intercalam o imenso depoimento de Niemeyer e dão ritmo ao filme.

Oscar Niemeyer – A vida é um sopro tem 90 minutos de duração que passam rapidamente e começou a ser produzido no aniversário de 90 anos do arquiteto. Direção de Fabiano Maciel

Ficha técnica
OSCAR NIEMEYER: A VIDA É UM SOPRO
Brasil, 2006
Direção e roteiro: FABIANO MACIEL
Produção executiva: SACHA
Fotografia: MARCO OLIVEIRA, JACQUES CHEUICHE
Montagem: JOANA COLLIER, JORDANA BERG, NINA GALANTERNICK
Música: JOÃO DONATO, BERNA CEPPAS, KASSIM, FELIPE POLI
Som direto: BRUNO FERNANDES, ROBERTO RIVA
Pesquisa: EDUARDO GUEDES, NUNO GODOLPHIN
Duração: 90 minutos

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As curvas de Niemeyer na telona

Por: Thiago Nogueira


Um filme sobre a vida de Oscar Niemeyer precisava ser tão belo quanto suas obras. E foi. No documentário Oscar Niemeyer – A vida é um sopro (2007), do diretor gaúcho Fernando Maciel e do produtor carioca Sasha, os contornos e curvas do mais famoso arquiteto brasileiro foram apresentadas de forma descontraída e elegante, num estilo bem parecido com a habilidade dos traços do projetor de Brasília e do Complexo da Pampulha. O filme é a prova que as linhas e a poética dos prédios de Niemeyer também ficam esteticamente harmônicos mesmo projetados numa tela.

Veja o site oficial: www.avidaeumsopro.com.br.


Ouvir aquele velhinho contando suas experiências, trabalhos, conquistas e erros cativa a todos que estão no sala de cinema. Parecia tudo perfeito: o filme e as obras do arquiteto. Num misto de humor e boêmia, Niemeyer, 99 anos de boa saúde e pura lucidez, tem uma maneira toda especial de narrar suas aventuras: o discurso sobre amigos, mulheres e aspectos pitorescos do Brasil criam um clima familiar no espectador.


A vida é um sopro não está em exibição nos grandes cinemas. A direção do filme preferiu restringi-lo a um público seleto e não gastar com publicidade, seleção essa que não pode deixar de fora sequer um arquiteto ou estudante da área. Como estratégia de marketing, a primeira semana de exibição do documentário foi gratuito em todos os cinemas do país. Num primeiro momento, você pensa: "ah, é de graça, então deve ser ruim". Mas o resultado foi outro. O diretor Fabiano Maciel, no bate-papo UOL, no último dia 07, comentou que a obra foi vista por sete mil pessoas nos 15 primeiros dias de exibição. Isso, levando-se em consideração que o filme esta em exibição em apenas uma sala de um único cinema nas capitais (menos Brasília e Porto Alegre).


Veja informações sobre a sessão em BH no Usiminas Belas Artes Cinema: www.embracine.com.br.



Nessa sinergia entre arquitetura e cinema, um elemento fundamental foi a direção de fotografia da obra, assinada por Marco Oliveira e Jacques Cheuiche. As imagens precisavam potencializar as obras de Niemeyer, valorizando linhas, formas e mostrando como as construções se integravam à aspectos do cotidiano. As soluções dos diretores passam da improvisação da gravação em cima de um skate, como nas tomadas do Museu de Curitiba, ou sobre patins, nas imagens do Espaço Oscar Niemeyer, em Le Havre. O feliz casameto arquitetura/imagens é o ponto alto do documentário.

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quinta-feira, 10 de maio de 2007

Não deu para tirar a cartola

Por Tássia Corina

Caracterizado como documentário, o filme “Cartola – Música para os olhos” (assista ao trailer) foi um projeto idealizado em 1998, a partir do convite de um instituto cultural que queria desenvolver um filme em torno da biografia do carioca Angenor de Oliveira, o Cartola. Para tal, a dupla de diretores Hilton Lacerda e Lírio Ferreira, foi convidada para dirigir a obra e a partir daí, mergulharam na pesquisa sobre o sambista durante cinco anos, debruçados sobre biografias e entrevistas com a família. Foram oito anos de produção, entre pesquisas, recolhimento das imagens e filmagens. O filme teve um investimento de R$ 1,6 milhão.

Tentando ser anticonvencional, o filme acaba se enforcando na própria corda. Isso porque, o personagem principal fica perdido no mundo de informações que narram o a obra. Fazer da narrativa um caleidoscópio foi a maneira que os diretores encontraram para reconstruir a memória do compositor. Como dizia cartola, “a vida é um moinho”. No entanto, esse mosaico de cenas e imagens de arquivo, muitas vezes, tira o foco do sambista. A qualidade dos vídeos nem sempre é satisfatória, algumas vezes, pela confusão das vozes e imagens, não se consegue compreender quem está dizendo o quê. Alem disso, mostrar a história do Brasil no período da ditadura, soa um pouco educativo.

A opção por utilizar cores como recurso cinematográfico, tal como a tela ficando escura nos momentos de crise do personagem, foi um recurso de narrativa que deu certo e criou um aspecto interessante. Entre erros e acertos, poder ver imagens de Cartola, ouvir suas músicas sempre emocionantes, e ter contato com algumas de suas facetas e histórias, dá ao filme um charme especial e um presente para a memória brasileira.

É uma justa homenagem, mas talvez, o compositor não iria gostar de vê-la. Em entrevista à Revista Manchete, em 1997, Cartola declarou que: "quem gosta de homenagem póstuma é estátua. Eu quero continuar vivo e brigando pela nossa música" (isso não consta no filme). Como exemplo de bom humor, ele continua vivo e forte, embalando os ouvidos de quem curte boa música.

Ficha técnica

Serviço

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“A vida é um sopro”

por: Michelle Natascha Beckmann

O diretor e roteirista Fabiano Maciel começou, em 1998, uma missão, que depois de quase dez anos, ficou pronta.

Mas queria ele descrever a vida de Oscar Niemeyer talvez não porque seria quase impossível contar, em 90 minutos, um belíssimo projeto arquitetônico de vida, de quase 100 anos... ih, para isso, nem eu imagino quantas películas seriam necessárias.

O documentário é o espelho do criador das mais belas obras arquitetônicas do brasil. e se niemeyer tem um jeito solto e irreverente de falar, nada melhor do que manter o estilo dessa criança “centenária”. o que aliás, faz com que o público dê algumas risadas, tornando o olhar fixo na tela do cinema, um divertido passatempo.

O filme (ou a homenagem, como queira), expõe depoimentos de quem admira e conhece o trabalho do mais famoso arquiteto brasileiro: Nelson Pereira dos Santos, Ferreira Gullar, Carlos Heitor Cony, Chico Buarque, José Saramago, Eric Hobsbawm, Eduardo Galeano (que, alías, tira o telespectador do lugar comum, quando diz que, no dia em que Deus criou as curvas do rio, tentou ser Niemeyer).

Por trás de projetos feitos de concreto, tijolos e lajes, se esconde uma personalidade boêmia e bem-humorada, que revolucionou a arquitetura moderna. Niemeyer vê na profissão uma forma de mudar o mundo, que nos faz insignificantes diante do vasto e indefinido universo. por isso, técnica e cálculo, alidados à criatividade, se colocam, para o arquiteto, como alternativas para que se criar uma sociedade mais justa.

É, caro leitor, devemos ter muito cuidado com cada material que usamos para erguer a nossa trajetória; dia-a-dia. pois se a base construída não for segura, qualquer vento pode derrubá-la. e essa brisa somos nós. por si só, a vida é um sopro.

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Vida e obra de Oscar Niemeyer em “A vida é um sopro”

por: Marina Toledo

Não leve a vida muito a sério, afinal, “A vida é um sopro, um minuto, e aí tudo se desfaz”. Essa frase revela o tom do documentário que está por vir: leve, descontraído, irreverente e apaixonante, assim como Oscar Niemeyer. O que se vê na tela tem um ar de homenagem ao arquiteto quase centenário.
Depoimentos de outros grandes nomes como José Saramago, Chico Buarque, Ferreira
Gullar, Eric Hobsbawn, Eduardo Galeano, Mário Soares, Ítalo Campofiorito Carlos Heitor Cony e Nelson Pereira dos Santos enriquecem o documentário e exaltam a figura e a importância do arquiteto.

No filme Niemeyer fala sobre suas maiores inspirações: a mulher e seu corpo cheio de curvas, os cursos dos rios e as montanhas. Com sua personalidade crítica fala sobre suas grandes realizações, como Brasília e a sede do Partido Comunista da França, e de suas obras espalhadas pelo mundo inteiro e sobre política e a situação do Brasil. Um dos ápices do filme é a parte em que ele defende com uma emoção aparente a criatividade.

O documentário Oscar Niemeyer - A Vida É um Sopro
foi dirigido por Fabiano Maciel e possui 90 minutos de duração e mostra como Niemeyer revolucionou o mundo da arquitetura com suas linhas curvas e ousadas em concreto armado. O filme é o primeiro do diretor e contou com gravações em outros países também, Argélia, Itália, Estados Unidos, Uruguai, França, Inglaterra e Portugal. O documentário começou a ser rodado em 1998, mas somente em 2007 chegou às telas do cinema.

Antes de dirigir A vida é um sopro, Maciel realizou outros dois documentários. Carrapateira conta a história de uma vila na Paraíba acerca do fato de que era a cidade mais pobre do país quando o homem pisou na Lua e Vaidade, sobre as revendedoras Avon que vendem produtos de beleza em pleno garimpo no Pará.

Um fato interessante que chamou a atenção do público foi o fato de que por uma semana, o público pode assistir ao documentário de graça. Isso porque os produtores do filme ao em vez de gastar com publicidade, compraram os ingressos para a primeira semana do filme em algumas salas em todo o Brasil e os distribuíram nas salas de cinema.

Clique aqui
para assistir o curta de Marc-HenriWajnberg com imagens do Museu de Arte Contemporânea de Niterói e Oscar Niemeyer passeando no Rio de Janeiro.

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Niemeyer - Uma personalidade exaltada por um admirador

por: Maria Silva e Silvério

Conhecer Oscar Niemeyer não só por seus traços curvilíneos da arquitetura, como também por sua personalidade e ideais de vida. A história profissional dessa personalidade brasileira está relacionada a importantes momentos do país, como a construção de Brasília, do Conjunto da Pampulha, em Belo Horizonte e do período de ditadura militar, quando foi proibido de exercer sua profissão por ser considerado comunista. Além disso, os traços de Niemeyer influenciam a arquitetura mundial e podem ser reconhecidos em importantes obras, como na sede da ONU, em Nova Iorque, na reconstrução da cidade de Berlim após a segunda guerra mundial e na Universidade de Constantine, na Argélia.

O documentário "Oscar Niemeyer - A vida é um sopro", possibilita ao telespectador compreender um pouco da arquitetura brasileira, além de conhecer mais de perto esse senhor de 99 anos, que, apesar de bem sucedido, se define como simples e defende mudanças sociais. Em 90 minutos, o diretor Fabiano Maciel utiliza imagens raras de arquivo e depoimentos de amigos e apreciadores de Niemeyer, como José Saramago, Nelson Pereira dos Santos, Ferreira Gullar, Chico Buarque, Carlos Heitor Cony e Eric Hobsbawn. Os depoimentos ajudam a revelar características de Niemeyer não só como arquiteto, mas como ser humano.

As gravações começaram em 1997, mas, por falta de recursos, o longa só ficou pronto agora. Para ilustrar as principais obras de Niemeyer foram feitas imagens em seis cidades brasileiras, além da França, Itália, Argélia e Estados Unidos. A estratégia de divulgação do documentário é diferente e não conta com propaganda nos meios de comunicação. Os distribuidores optaram por comprar ingressos e distribuí-los gratuitamente em seis capitais do país na primeira semana de exibição do filme. A intenção é que a propaganda seja feita de boca em boca. Estratégia bem sucedida ou não, o que interessa é que o filme provavelmente terá muitos elogios.

Não resta dúvidas que ele é interessante e irá ampliar o leque de conhecimento do espectador. A grande certeza, no entanto, é que o diretor Fabiano Maciel conseguiu, em seu primeiro longa-metragem, atingir seus objetivos. Maciel se declara fã do arquiteto e assumiu em entrevistas que a inspiração para gravar o documentário foi a sua percepção de que o país está ficando cada vez mais feio, com prédios ridículos. Por isso, valorizar e exaltar a arquitetura de Niemeyer seria, para ele, uma maneira de fazer com que os brasileiros olhassem com mais atenção as construções que estão sendo feitas. Além disso, Maciel também se mostrou incomodado com as conversas que ouvia em botequins, onde todos criticavam Niemeyer e a funcionalidade de suas obras.

Quem assiste ao documentário tem a certeza que Niemeyer é um gênio. Além de reforçar a noção já definida, de que ele é o maior arquiteto brasileiro da modernidade, o telespectador sai do cinema admirando a força de vontade, seriedade e convicção desse brasileiro. Os relatos dados, não só por Niemeyer, como também pelas outras personalidades que aparecem no filme, deixam a impressão de que o arquiteto sabe tudo e tem sempre razão. Mas por que algumas de suas obras são tão polêmicas e criticadas? Por que será que tanta gente fala mal do arquiteto nos botequins? Será que ele é mesmo mal-humorado e impaciente? Os espectadores só terão essas respostas se procurarem em livros, matérias de jornal ou em outros documentários sobre Niemeyer e sua vida!

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Cartola



por: Clara Werneck


Compositor, carioca, poeta, malandro. Cartola foi uma das figuras mais significativas não só da música, mas também da cultura brasileira no século XX. Seria um enorme desperdício realizar um documentário quadrado, convencional sobre o fundador da Estação Primeira de Mangueira. Mas como retratar sua vida sem que os típicos depoimentos de familiares e amigos, imagens e fotos de sua vida caíssem no clichê? Os diretores Lírio Ferreira – que traça um interessante perfil de linguagem desde “O Baile Perfumado” (1997) e o recente “Árido Movie” (2006) - e Hilton Lacerda – roteirista de “Amarelo Manga” (2002) - souberam como.

Através de inúmeras técnicas de montagem e de composição do documentário, os diretores conseguiram fazer um trabalho de enorme sensibilidade, traçando os passos de Cartola com muita poesia. Belíssimas e raras imagens do Rio e do Brasil do início do século até a década de 80 compõem o ambiente da vida do compositor; cenas de filmes brasileiros clássicos como Rio 40 Graus, de Nelson Pereira dos Santos, Terra em Transe, de Glauber Rocha e ainda filmes de Oscarito, ilustram e dão forma aos diversos aspectos da vida do fundador da Mangueira.

Fugindo às normas do documentário tradicional – narração em off, depoimentos simples e imagens previsíveis - os diretores e roteiristas intercalavam imagens de quem dava um depoimento com imagens do Morro da Mangueira, da Lapa, do Rio e de demais situações relacionadas à vida de Cartola. Em um dado momento, quando o documentário aborda uma má fase na vida do compositor, na qual ele se afastou da Mangueira e do samba e teve problemas com a bebida, os diretores utilizaram um recurso de linguagem e deixaram a tela completamente negra e silenciosa enquanto, em off, um companheiro narrava as dificuldades pelas quais passava Cartola. E de repente, sobe o áudio com uma de suas belíssimas composições, e imagens de um Rio vibrante, com a Bossa Nova e o espírito positivo do início da década de sessenta, deixam claro que o sambista havia se recuperado e que retornara à ativa.

Sutil como as composições de Cartola mas inquietante como os fatos conturbados de sua vida, “Cartola” traz a público fatos conhecidos e às vezes desconhecidos da vida do compositor; mas independente disso, aborda com tamanha sensibilidade e criatividade os aspectos de sua história que o espectador tem a possibilidade de ir além. Não só conhecer, mas sentir o universo desse que foi um dos mais importantes compositores da música brasileira.

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Cartola, o sambista malandro

por Wesley Diniz


Fazer filme biográfico é sempre um desafio para os cineastas, representar os trejeitos e pensamentos do personagem é uma armadilha, principalmente se esse personagem for Agenor de Oliveira, o popular Cartola. O documentário “Cartola – Música para os Olhos” é um resgate da memória brasileira, um homem que tem papel fundamental na história do samba brasileiro, com mais de 500 composições, além de ser um dos fundadores da Mangueira. O filme retrata a vida boêmia do sambista e compositor carioca de vida simples, que só gravou seu primeiro disco aos 65 anos.

Cartola segue uma tendência do cinema atual, que exibe histórias fragmentadas, assim como o Premiado Crash – No Limite, Babel, Traffic, entre vários outros, diferente dos modelos tradicionais de documentário, que normalmente possuem uma linearidade. “Não sei se começo a narrar minhas memórias pela minha ou pelo meu nascimento”. A referência a Memórias Póstumas de Brás Cubas, no inicio do filme, dá o tom da falta de linearidade do longa, que apresenta Cartola em seu enterro. Esse experimentalismo, para quem não tem um conhecimento mínimo do sambista, pode criar uma imagem fragmentada do personagem.

Estereótipo do malandro carioca, Cartola é resultado de uma sequencia ficcional e de uma miscelânea de arquivos históricos – pedaços de shows, entrevistas e fotografias. Um homem que viveu entre as mulheres, sambas e bares; e na maioria das vezes com o bolso vazio, foi ilustrado pelos diretores como o próprio personagem, sem aquele tom melancólico muitas vezes mostrados nas biografias cinematográficas.

Lírio Ferreira e Hilton Lacerda fazem uso de técnicas interessantes para contextualizar o documentário. Cenas dos soldados andando para trás – representando um momento de retrocesso do país, a ditadura; tomadas de tela negra remetendo a uma fase obscura de Cartola e imagens da segunda guerra são referências do momento vivido pelo sambista.

Resgate da memória que é normalmente esquecida? De um lado cineastas ignoradores da história e de uma nação sem memória. Do outro a dificuldade de se ter acesso a arquivos que são protegidos por leis ou simplesmente são tratados como entulhos. Lírio Ferreira idealizou o filme em 1998 e devido a essas dificuldades só finalizou o filme em 2006.

O filme é a representação do que esse sambista, de jeito malandro, significou para a cultura brasileira, um resgate da identidade de homens e mulheres que fizeram do “batuque ritmado” parte da sua cultura.

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Cadê Angenor?

por: Thobias Almeida


Abrem-se as cortinas do filme na cena em que o violão de Cartola se cala para sempre. Em seu funeral, a voz de Jards Macalé ecoa passagens de Memórias Póstumas de Brás Cubas, livro de Machado de Assis. Por quê? Porque Angenor de Oliveira, o Cartola, nasceu no ano em que Machado finalizou o livro da vida. Os realizadores do filme, Hilton Lacerda e Lírio Ferreira, tentam assim realizar um diálogo entre o mestre do samba e o mestre de nossa língua pátria. E como em Memórias, do funeral partimos para o início, para o toque ainda incerto de um malandro que levou a música muito a sério.

A cinebiografia Cartola-Música para os olhos (Brasil, 2006) não adota um modelo popular, se assim pode-se dizer. É entrecortada por cenas reais e fictícias, numa miscelânia às vezes agradável, outras tantas confusas. Há depoimentos de amigos e antigos parceiros, como Carlos Cachaça, cenas jogadas à revelia de um propósito mais sólido, apenas para contextualizar o Brasil da época. Não há necessidade de contextos para os gênios, eles serão gênios tanto numa Roma coberta pela chama de Nero quanto num morro poeirento carioca. Cartola não foi influenciado pelo meio, pelo contrário, fez a natureza dobrar-se ao seu talento. Um gênio sem escola, mas com uma sabedoria ímpar.

Fica a sensação de vazio quando procuramos pelos vestígios de um homem comum em Cartola. A biografia nos mostra um personagem, respeitado, admirado, sofrido, mas não os momentos de um homem simples, com seus defeitos, esquisitices, com a mediocridade inerente ao dia a dia de qualquer ser humano, mesmo o do gênio. Onde está o Cartola ordinário, no bom sentido da palavra? Terá ele sido sempre Cartola, nunca Angenor? Essa é a dificuldade de se retratar ícones, mitos que fincaram irremovíveis raízes na cultura popular.

Com uma proposta de narrativa diferente, não-linear, mas imperfeita devido ao acréscimo de imagens que pouco acrescentam ao filme, Cartola-Música para os olhos nos abre a janela da sala do sambista. Muitos gostaríamos de navegar por debaixo de sua cama ou por dentro de seu armário.

Bem intencionado, mas mal estruturado

por: Flávia Freitas Brandão


Muita fala e pouco Cartola. É o que o espectador certamente irá sentir quando sair da sala de cinema, após ver “Cartola-Música para os Olhos”(Brasil-2007). Os méritos de Lírio Ferreira e de Hilton Lacerda, respectivamente diretor e roteirista do documentário, são dignos ao tentarem trazer a público aquele que foi um dos maiores compositores e interpretes da música popular brasileira. Sem dúvida, um incentivo a memória cultural do país. Mas, a forma de retratar quem foi esse ícone do samba se mostra obscura aos olhos do espetador, que tenta descobrir em meio a uma miscelânia de imagens de arquivos e depoimentos, quem realmente foi Angenor de Oliveira. Em síntese: bem intencionado, mas mal estruturado.

Começar pelo morte ou pelo nascimento? Essa é a pergunta que o documentário joga para aqueles que o assistem já nos primeiros minutos de exibição. O caminho seria irrelevante se os diretores não tivessem abusado de uma mistura demasiada de depoimentos, que deixam o espectador perdido sem saber ,muitas vezes, com quem a palavra se encontra no momento.

Outro ponto equivocado foi a inserção do ator, que representa Cartola quando criança. Já que os diretores optaram por construir a história do cantor através de depoimentos e de um mosaico de imagens, a atuação do menino se mostrou equivocada e desnecessária. Talvez se Lírio Ferreira e Hilton Lacerda explorassem mais a atuação do garoto reconstruindo trechos da vida de Cartola, o documentário ganharia mais profundidade no personagem. Essa imersão no universo do personagem é o que a princípio se espera de uma cinebiografia, e isso o documentário dos diretores pernambucanos não consegue alcançar. Na busca da inovação, Hilton e Lírio desviaram o foco biográfico e Cartola se perdeu no emaranhado de referências presentes no filme (imagens de arquivos, falas de amigos, entrevistas para rádio e tv e trechos de filmes).

Mas apesar desses equívocos “Cartola- Música para os Olhos” merece ser visto porque apresenta também pontos positivos. A exemplo, o recurso cinematográfico, um tanto original, de exibição de uma tela negra para ilustrar o momento em que Cartola sai da cena musical. Além disso, o recurso do diálogo cinematográfico com trechos de “Brás Cubas”, de Júlio Bressane e “Rio 40 graus” de Nelson Pereira dos Santos. E também não se pode deixar de elencar os belos momentos musicais, que certamente irão fazer com que o espectador se emocione e cante junto com o gênio do samba, Cartola.

Agora para aqueles que não conhecem esse grande compositor não deixem de ler antes de ir para a sala de cinema, pois “Cartola-Música para os olhos” não vai suprir a sua curiosidade de saber detalhes da vida de Angenor de Oliveira, o Cartola.

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Por um sopro

por: Bárbara Teles

Há oito meses de completar 100 anos, lúcido, com insinuações boêmias e palavriado irônico-humorístico, a vida de Oscar Niemeyer é um sopro. Assim, leve. Quase que artetonicamente planejada. E foi a simplicidade desse traço que deu o recado-homenagem de Fabiano Maciel, realizador do documentário sobre a obra de um dos arquitetos mais relevantes no contexto mundial.

Abordando quase um século de vida, o filme conseguiu reunir nomes também relevantes, que endossam a diferença no trato profissional do arquiteto que o diferencia. Na coletânea há registros de falas, ótimas falas, de Chico Buarque, Ferreira Gullar, José Saramago, Eric Hobsbaw, com um olhar especial ao depoimento de Eduardo Galeano, que define Niemeyer como alguém que odeia o capitalismo e a linha reta.

E isso que ele gosta, curvas, se converge no que mais dá a ele prazer: a mulher. Cena final do documentário, nos quase 90 minutos, os momentos de redundância e de talvez uso inadequado de algumas imagens, deixa de ser relevante pela quebra, mais uma vez, daquilo que poderia ser reto, comum. Simples, de novo, há uma ruptura que parece até tirar um entrevistador que nem aparece e dá ao documentário um gosto de surpreendente; mesmo que Niemeyer tenha sido nas filmagens o mesmo desbocado, boêmio e inteligente.

O filme deixou de lado o aspecto puramente pessoal, reafirmando o porquê de adjetivar o objeto sujeito em questão como um revolucionário da Arquitetura Moderna, pela sua exploração ao concreto e visão sobre o papel social de uma geração que urgentemente deve repensar o Brasil.

Curvas, mulheres, ideologia, política, impacto. Homenagem por homenagem, até nos faz lembrar um outro mestre, Vinícius de Moraes que, se tivesse vivo, poetizaria os pontos curvilíneos do filme e fecharia com a boemia de ser simples, porque grandes construções podem vir de um sopro.

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Documentário homenageia Oscar Niemeyer

por: João Victor de Araújo Leite

O documentário “Oscar Niemeyer - A Vida é um sopro”, de Fabiano Maciel, conta a vida e obra deste que é considerado o maior nome da arquitetura brasileira. Mais do que um filme, o longa é uma verdadeira homenagem ao arquiteto que em 15 de dezembro completará cem anos de vida.
Leve e irreverente, o filme revela a personalidade boêmia, crítica e bem-humorada que existe por trás do criador de Brasília, da sede do Partido Comunista Francês, além de tantos outros projetos importantes espalhados pelo mundo.

O documentário não é um filme inovador, diferenciado, porém, o diretor Fabiano Maciel soube usar com muita maestria antigos depoimentos de Niemeyer sobre política, mulheres, amizade e sobre o Brasil. O filme é bem pensado, “arquitetado”, alterna trechos de entrevistas com belíssimas imagens das obras e do mundo em que vive Niemeyer.

Os depoimentos de José Saramago, Eric Hobsbawn, Nelson Pereira dos Santos, Ferreira Gullar, Carlos Heitor Cony e Chico Buarque, entre outros, complementam a obra.
O que mais impressiona no filme não são as imagens, mas sim a personalidade de Niemeyer e como a sua história se confunde com a do Brasil.
Quem assistir ao filme vai se surpreender com um Niemeyer contestador, que critica a burguesia e os meios de comunicação e que debate, inclusive, sobre o seu ideal de vida.

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'A vida é um sopro' conta os desejos, sonhos e obras de Niemeyer

por: Pedro dos Anjos

Simplicidade. Essa característica tão marcante da obra de Oscar Niemeyer é o fundamento de Fabiano Maciel na realização do excelente 'A vida é um sopro', documentário sobre a vida, e a obra, do arquiteto de quase 100 anos de idade, completa em dezembro, e com mais de 60 deles dedicados à carreira que o tornou um dos nomes mais respeitados da arquitetura mundial.

Os morros, as praias e as mulheres do Rio de Janeiro são a origem do traço puro e cheio de curvas que faz o trabalho de Oscar Niemeyer tão reconhecido. E é desta mesma forma suave e sinuosa que 'A vida é um sopro' mostra a biografia do arquiteto. Sem engrandecimento exacerbado, sem tom de exaltação, sem culto nem mistificação, Oscar Niemeyer se mostra (e é mostrado) como é realmente: um homem com muita história para contar. 'Eu tive uma vida como a de qualquer outra pessoa, e a vida passa como um sopro.(...) Se me perguntam o que eu acho do meu trabalho ser reconhecido no futuro, penso que quem reconhecer daqui a todo esse tempo vai morrer também, então a pergunta passa a não fazer o menor sentido'.

'A vida é um sopro' tem narrativa em primeiríssima pessoa, é o próprio Niemeyer quem narra os acontecimentos da sua vida, em ordem cronológica e com rara simpatia. A lendária dificuldade de acesso ao arquiteto desaparece conforme as histórias vão sendo contadas entre tragadas da cigarrilha companheira e rabiscos despretensiosos na prancheta. Também desaparece, na edição primorosa, a figura do entrevistador. A conversa direta entre o arquiteto e o espectador se funde perfeitamente com os depoimentos de amigos e admiradores como o poeta Ferreira Gullar, os escritores Carlos Heitor Cony, Eduardo Galeano e José Saramago.

Imagens atuais de prédios e monumentos projetados por Niemeyer, assim como imagens antigas das construções e inaugurações dos mesmos, servem como ilustração, mas sem qualquer pedantismo didático. Soam tão naturais quanto os palavrões ditos pelo arquiteto, tão naturais quanto ao fato dele ter se casado pela segunda vez no ano passado, tão naturais quanto à lucidez de um homem que, à beira de completar um século de consistência e coerência inabaláveis, continua em plena atividade, desenhando de forma livre como se ainda fosse o menino que desenhava com o dedo no ar. 'A vida é um sopro' mostra simplesmente que, na verdade, ele ainda é.

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terça-feira, 8 de maio de 2007

Curvas, Concretos e Perfis Desgastados

por: Fábio Corrêa


Confesso que sempre tratei as obras de Niemeyer com uma certa reserva. Nunca entendi muito bem a funcionalidade de prédios construídos em espiral elíptica, das fachadas de concreto – que no fim, sempre ficavam manchadas pela chuva – ou dos capacetes de ponta-cabeça que mais me pareciam cumbucas de pilar alho gigantes. As pessoas falam idiotices, o tempo inteiro, às vezes apagam suas reputações ilustres em troca de um comentário mal-pensado, como diria o próprio arquiteto. Eu, que nunca fui ilustre, não titubeei em atravessar o sinuoso edifício de Tancredo Neves, rumando ao cinema em ângulos retos, pensando, que, talvez ali, pudesse responder a uma questão (evidentemente idiota) que nunca me era esclarecida: como os móveis poderiam ser dispostos naquele espaço sem declararem guerra aos mindinhos errantes de seus moradores? Um verdadeiro exercício de Feng-Shui quântico para as massas descalças.

Ou para algum diretor de cinema brilhante o bastante para ter a incrível idéia de responder a essas e outras perguntas. E, é claro, como um documentarista padrão de grande personalidades brasileiras – espécime não muito rara nesses tempos de valorização (especulativa) do cinema tupiniquim – Fabiano Maciel não foge à regra. Oscar Niemeyer – A vida é um sopro (2007) se limita a transformar Oscar Niemeyer num personagem folclórico, com seus comentários irônicos e sua visão pessimista – e divertidíssima – da vida, e sua trajetória de inegável sucesso nos quatro cantos do mundo: que ele mesmo se propôs a transformar em curvas. Mas por quê? como? e onde estavam os vendedores de réguas?, essas são respostas que não podem ser respondidas. Assim como em Cartola não ficamos sabendo o porque de seu nome ou do formato esquisito de seu nariz, em A vida é um sopro parece mais importante a presença mítica de um senhor de 99 anos, sentado de óculos escuros no museu de arte contemporânea de Niterói do que a conceituação de sua própria obra revolucionária. Ou seja: a vida é um sopro, mas esse ilustre senhor merece algo além da simples constatação de que ele soprou tempo demais.

Fabiano Maciel não se mostra um documentarista desprovido de conhecimentos da linguagem cinematográfica: pelo contrário, parece ter aprendido bastante com a cartilha de Vertov. Planos muito bem escolhidos – belas imagens de um Rio de Janeiro no crepúsculo parecem nos querer dizer que o Pão de Açucar também é obra do arquiteto -, interessantes imagens de arquivo, depoimentos de gente grande como Chico Buarque e Eric Hobsbawm (outro que também parece ter muito pulmão para soprar por tanto tempo)... Mas todos convergindo, em curvas niemeyerianas, é bom dizer, para a mesma exaltação vazia de um gênio que os leigos não compreendem. Tudo bem, a linha reta agride o espaço, o concreto possibilita sustentações arquitetônicas fluidas e suaves, mas, apenas para o bem da forma? Deve haver um ponto, algo mais, um motivo para toda a ideologia moderna do arquiteto. Os depoimentos do próprio Niemeyer, nesse sentido, não contribuem. Apenas impropérios – engraçadíssimos, diga-se de passagem – sobre perguntas simples como “qual a funcionalidade desse projeto”. Eu, em meus conhecimentos absolutamente leigos de arquitetura, não deixei de relembrar os móveis do Edifício Niemeyer, as fachadas de concreto sujo e agredido pela chuva no Edifício JK, a imagem degradada do Cojunto Iapi. Em minha ignorância urbanística e arquitetônica, continuo pensando em Niemeyer como o maior projetista de pistas de skate da humanidade. E olha que essa é uma visão que não pode ser refutada pelo documentário: a Place du Colonel Fabien, em Paris, um dos maiores trunfos do arquiteto, é mostrada como pista para manobras arrojadas numa certa sequência do filme. Radical.

Mesmo longe de pecar na forma, o diretor Fabiano Maciel peca no conteúdo. De fazer um documentário-perfil de quem já é mais que perfilado pelas construções da mídia, e de quem não é barbada, fico mais com o último – como o maravilhoso Do Outro Lado da Sua Casa (1985), dos documentaristas do Olhar Eletrônico. A ilusão de que o personagem já faz o jogo ganho é uma maldição tantas vezes repetida que já deveriam nascer cineastas vacinados contra tal pestilência. Um homem tão grande como Niemeyer merecia maiores acepções acerca de suas intenções, seu contexto histórico, seu impacto no desenvolvimento da arquitetura e, é claro, por que não, suas grandes cagadas. Nenhum quadro sobre o fracasso do projeto inicial do Edifício JK, nenhuma consideração real sobre os Iapi's, nada sobre as críticas tanto desferidas sobre o Copan. “Foi Deus que desenhou as montanhas do Rio quando pensou ser Niemeyer”. Mas com quais preceitos urbanísticos a não ser abrigar favelas? Tudo, no fim, soa como bajulação, uma reverência vazia e sem fim.

É uma pena que personagens cruciais para nossa história sejam descartados tão facilmente por exercícios de mera formalidade cinematográfica. Depois de Cartola e Niemeyer, só nos resta imaginar quem será o próximo. “Arte é invenção”, o sopro de um Niemeyer nos termos finais de sua experiência curva ainda ressoa forte nos ouvidos de quem o assiste. Menos nos de Fabiano Maciel, que parece tapá-los e ignorar toda a potencialidade que emante de Oscar Niemeyer, pronta para ser transposta para o cinema. E eu ainda continuarei a me perguntar o porquê de tantas curvas e de tanto concreto. Mas sem não deixar de pensar, ao contemplar, do alto de minha ignorância, o sinuoso Edifício Niemeyer, que aqueles parapeitos dariam uma bela pista de skate.

Um convite a um tempo passado

por: Luciano Márcio

O cinema brasileiro passa por uma fase de lançamentos de biografias de figuras emblemáticas na área sócio cultural. Filmes como Vinicius e Nyemier procuram fazer o resgate de personalidades famosas por razões que grande parte do público desconhece. Com essa vertente tão em voga, mais um filme vem se somar a essa fileira: Cartola – Música para os Olhos (Brasil, 2007), cinebiografia do sambista carioca Angenor de Oliveira. Mas é de destaque a qualidade da obra.

O músico, máximo expoente da lírica malandragem carioca, fundador da Mangueira e dotado de uma vida que (perdão pelo trocadilho) daria um filme, deu origem a um documentário que mescla de forma criativa imagens documentais e filmagens que buscam recriar momentos vividos pelo compositor.

O filme de Hilton Lacerda e Lírio Ferreira não pretende desde o inicio seguir uma linha linear. Começando com imagens do enterro de Cartola em 1980, houve-se a narração em off do trecho inicial das Memórias Póstumas de Brás Cubas. Aquela do “não sei se começo a narrar minha memórias pelo fim ou pelo começo, ou seja, pela minha morte ou pelo meu nascimento”. Tem-se assim estabelecido o pacto entre espectador e obra de que o que virá a seguir não será exatamente um documentário linear. Apesar de cronológico, o modo como a história é narrada foge do clichê de imagens de arquivo depoimentos, apesar de utilizar desses recursos. Pequenas mudanças na estrutura, como o uso de som e a não utilização de imagens com o fim de produzir uma sensação de obscurecimento quando Cartola ruma ao ostracismo, dão o efeito contrário a maioria dos documentários, que buscam ser uma representação fiel da realidade. O filme busca ser um convite apaixonado para que o espectador conheça a história da vida de Cartola e sua importância no cenário musical e emocional no mundo samba carioca.

Nascido em 1908, testemunha e personagem de grande parte do nascimento do samba, Cartola passou por períodos em que chegou a ser lavador de carro, quando foi resgatado para voltar ao mundo da música por Stanislaw Ponte Preta, jornalista influente da década de 50. O curioso é que as únicas gravações de sua carreia foram durante a década de 70, já sexagenário.

Desperta interesse no filme o fato de ele não se prender apensa à figura de Angenor. Por vezes, ele é simplesmente usado como pano de fundo para retratar uma época ou acontecimentos que marcarão seu tempo. Cartola se torna protagonista e coadjuvante do mundo em que vive, tornando sua passagem pela vida mais marcante e encantadora. Músicas, depoimentos e imagens se fundem para criar um manancial de sentidos, confusos em alguns momentos, mas sempre dotados de sincera sensibilidade.

O filme consegue encerrar o circulo que se propôs no inicio da obra, assim como na música mais famosa de Cartola, “A vida é um moinho”. Ao veicular novamente imagens do enterro, o filme consegue estabelecer a atemporaliedade da obra de Cartola. O samba prossegue a tocar onde reside o corpo de Cartola. Angenor não deixou o samba morrer. Assim como o filme, quando recupera a passagem de Cartola pela vida, com tanto lirismo e poesia.

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Cartola : Música Para os Olhos

por: Marcelo de Campos Zicker

Realizar cinebiografias tem sido prática comum no mercado cinematográfico atual.No rastro de sucessos como Vinícius, chegam às telas filmes que se propõe a trespassar a carreira de figuras de relevância cultural histórica. Ás vésperas de completar 100 anos de nascimento de Angenor de Oliveira, o Cartola, ganha uma cinebiografia de estrutura pouco linear e pouco cronológica.

A história do artista, nascido em 1908, começa nas décadas de 1920 e 30.É aí que funda a Mangueira, escola de samba com quem teve uma relação de amor e ódio, e começa a vender suas composições para grandes nomes da música na época, como Carmem Miranda, além de cultivar amizades com Villa Lobos e Noel Rosa.De infância pobre e de pouca instrução, o músico é o símbolo de uma simplicidade quase inocente da vida no morro carioca, escassa na atual contemporaneidade.Carregado de um lirismo não aprendido na escola, onde Cartola nunca freqüentou, compôs uma série das grandes pérolas do velho samba ao violão( muitas delas aparecem em performances raríssimas no filme), viu sua estrela brilhar tarde demais e, ainda assim, não trocava sua pacata rotina por badalação nenhuma.

A dupla de diretores Lírio Ferreira e Hilton Lacerda produziram um documento confuso, que abusa de cenas de arquivo(algumas em péssima qualidade) e uma aleatoriedade de imagens na montagem do filme, que não contribuem para um bom entendimento da trajetória do artista pelos leigos no assunto.Outro fato negativo se encontra estigmatização de Angenor como um exemplo de “malandro” carioca, e de que isso foi preponderante nas temáticas de composições do mesmo.

A necessidade factual que o documentário se propõe a passar se compromete pela forte carga lírica da obra, com alguns aspectos da vida de Cartola analisados superficialmente ou ignorados pela montagem final( a origem do apelido e a sua relação com a Mangueira). Apesar disso, o filme tem seus méritos.Um deles reside na raridade e preciosidade de certos materiais, como cenas de arquivo inéditas que foram restauradas, musicais e depoimentos recuperados , com imagens de Madama Satã, Donga, Pixinguinha e Elza Soares.

Apesar de não se firmar como uma biografia definitiva sobre o artista, o filme detém o mérito de exaltar a obra de um artista de suma importância para a música popular brasileira que , mesmo limitado pela pouca educação, contribuiu enormemente para enriquece-la.

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Musica do Tom, Casa do Oscar

Por: Fábio Gruppi


A vida é um sopro. Essa é a frase repetida algumas vezes por Oscar Niemeyer e que dá o tom ao documentário biografico produzido pelo diretor Fabiano Maciel. O documentarista optou como cenário o escritório de Niemeyer em sua casa no Rio de Janeiro, o que não nos diz muito da grandiosidade de um homem que completou o centenário em 2007 e que revolucionou a arquitetura mundial. A beleza e o tamanho das obras do arquiteto ajudam o filme a não ser monótono, afinal não é qualquer vida que preenche 90 minutos sem cansar a platéia.

Oscar não esconde sua postura anti-capitalista e em meio a seus depoimentos deixa mensagens de sua forma simples de encarar a vida. Como ele mesmo diz, a vida é um sopro, então extinguir as linhas retas e experenciar a vida. Assim como ele fez ao construir a Pampulha, criando vida no concreto. Não apenas pelas curvas que desenhou, mas também por se juntar a pintores, escultores como fez com Picasso na “igrejinha”.

Niemeyer que criou junto com seu estilo uma identificação das pessoas com suas obras (sejam prédios, esculturas,...). Brasilia foi uma segunda etapa de sua parceria com o presidente JK (primeira foi a Pampulha) e a cidade incita imagens semioticas de representação da cidade. Não só no Brasil, mas no resto do mundo inteiro.

E nesse resto de mundo Niemeyer mostra que nós brasileiros, sempre nos julgando inferiores o menos capazes que a população do primeiro-mundista, na verdade estamos na frente pela nossa leveza em encarar o mundo. Não é atoa que ele se gaba de ter sido gentil ao “deixar pra lá” quando um outro arquiteto renomadíssimo ganha a obra do prédio da ONU com um projeto idealizado por ele.

Chico Buarque, Ferreira Gullar, José Saramago também inaltecem as obras de um arquiteto que vê em seus projetos não predios, mas futuras obras de arte. Como compara Chico Buarque: "Casa do Niemeyer é igual a musica do Tom".

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O Brasil de músicas primorosas

por: Maria Cristina Rielle

É possível, ao mesmo tempo, gostar e não gostar do documentário Cartola. Trata-se de um filme que busca retratar o compositor carioca, sem ser uma cinebiografia convencional, aquela com estrutura básica, tempo linear e repleta de detalhes. Para gostar, plenamente, é preciso que o espectador esteja aberto às experimentações. Entretanto, ainda que não esteja, é difícil não apreciar a criatividade e o talento de um grande compositor, difundidos na tela, por meio de canções primorosas. Daí, a contradição de sentimentos diante de uma narrativa construída fora dos cânones tradicionais, que entrelaça ficção e documentário. Nessa película, dirigida e roteirizada pelos pernambucanos Lírio Ferreira e Hilton Lacerda, a música interpreta e revela Cartola. É ela que mostra as especificidades desse homem simples e do seu mundo periférico, onde, apesar da pobreza e da exclusão, vivem também a alegria e a criatividade.

O artista Cartola se faz presente na sua obra. Um homem que foi pedreiro, lavador de carros e contínuo do Ministério da Agricultura, criou versos à prova do tempo, em canções que servem à toda alma humana. E, no entanto, só conseguiu gravar o seu primeiro disco aos 66 anos. Esse documentário não reconstitui a vida de Cartola, didaticamente. É uma mistura de cenas de arquivo, por vezes mal conservadas. Chega a incomodar a constatação de que imagens feitas de um tempo, que nunca voltará, tenham sido tão livremente deixadas aos efeitos dos anos.

Há cenas de filmes e documentários de época, que servem para compor uma parte da história do Brasil, com suas diferentes realidades: a Bossa Nova, o país de JK, a ditadura. Além disso, os diretores ilustram certas passagens com diálogos da ficção cinematográfica, usando cenas de outros filmes, como as chanchadas da década de 1950 e o Cinema Novo. Pode-se citar, por exemplo, Aviso aos Navegantes, de Watson Macedo, em que o trecho mostrado, com Oscarito e José Lewgoy, serve para referir um Cartola mulherengo. Ou, ainda, o uso de imagens de Rio 40 Graus, de Nelson Pereira dos Santos, para ilustrar o problema da compra e venda de sambas.

Há um excesso de colagens, principalmente na primeira parte do documentário. Mas, aos poucos, sobressai o compositor e a sua arte, na sucessão de músicas cujas letras são eternas e tocantes, com temas da vida cotidiana.

Ao som do samba “Sala de Recepção”, de Cartola, são mostradas imagens do morro da Mangueira, suas lojinhas velhas, seu povo sorridente e meninos brincando com carrinhos de rolimã. Mas na letra da canção, o compositor indaga: “Habitada por gente simples e tão pobre/ Que só tem o sol que a todos cobre/ Como podes, Mangueira, cantar?". Em tudo, no entanto, persiste a alegria do subúrbio carioca. Num Brasil de contradições, o morro canta e dança. E em sua identidade boêmia, é mais samba, pandeiro, violão e cavaquinho.

Cartola, cujo nome de batismo era Angenor de Oliveira (prenome assim grafado por erro de um escrivão) nasceu no bairro do Catete, em 1908. Só aos onze anos, por problemas financeiros, mudou-se com a família para a Mangueira. Ele participou da fundação da escola de samba daquela comunidade, em 1928, e escolheu para ela as cores verde e rosa. Morreu em 1980, vítima de um câncer, legando à música brasileira canções imortais de grande lirismo.

Esse documentário focaliza a trajetória pessoal e musical de Cartola, privilegiando o compositor na narração da sua história. No entanto, a presença dos amigos, parceiros (como Carlos Cachaça e Zé Kéti) e familiares, com seus depoimentos, também contribuam para desenhar o perfil desse sambista carioca. Assim, o documentário começa com o enterro de Cartola e usa cenas do filme Brás Cubas, de Júlio Bressane, uma adaptação da obra de Machado de Assis, para ilustrar a idéia de um defunto que é o narrador e reinterpreta a sua própria vida.

Os diretores classificam esse filme como um documentário musical, sem, todavia, se deixar engessar num gênero. Ele é um mosaico de imagens, em que ficção e documentário se entrelaçam, constituindo uma forma diferente de ilustrar a vida de Cartola. Quase no final, o compositor passeia pelas ruas do Rio, ao som da canção Autonomia. Uma câmera em travelling leva o espectador a caminhar com o artista, experimentando, por um instante, a beleza criativa daquele tempo. Para aqueles que não gostarem das tantas colagens, resta, ainda, apreciar a trilha sonora notável, permeando uma época, um artista e uma cidade que ainda é tão bela quanto os versos líricos de Cartola.

CARTOLA
Brasil, 2006
Direção: Lírio Ferreira e Hilton Lacerda
Produção: Clélia Bessa, Hilton Kauffmann
Roteiro: Lírio Ferreira, Hilton Lacerda
Fotografia: Aloysio Raolino
Trilha Sonora: Cartola
Duração: 88 min.
Gênero: Documentário

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Coragem para inovar

por: Eduardo Drummond

Mesclando fatos com ficção, os diretores Lírio Ferreira e Hilton Lacerda de “Cartola –Música para os Olhos” redescobrem não somente a vida do compositor como a história de uma das mais tradicionais escolas de samba do Rio de Janeiro, a Estação Primeira de Mangueira. Cartola afirma, em uma das entrevistas, que não só fez parte da fundação da escola como foi ele quem escolheu as cores e o nome.

Para conseguir contextualizar as histórias que são narradas durante o longa, os diretores se utilizam de recursos ficcionais para resgatar os momentos vividos pelo compositor. Chama atenção no filme a utilização de uma criança, que ilustra o músico quando mais novo. Além da utilização de longas que marcaram a época, como Terra em Transe de Glauber Rocha e filmes de Oscarito e Grande Otelo que mostram de maneira irreverente a vida dos sambistas da época.

O documentário se destaca na coragem dos diretores ao inovar na utilização alguns recursos. Quando, no começo do filme, um microfone é colocado em um esqueleto e o primeiro capítulo de Memórias Póstumas de Brás Cubas de Machado de Assis é lido em off, fica a nítida sensação de que quem nos fala é o próprio Cartola além túmulo, gerando um desconforto no espectador e beirando assim, o mau gosto. Quando no filme os entrevistados abordam a questão do alcoolismo de Cartola, a tela fica em preto, sem nenhuma imagem, por pelo menos 3 minutos, o que causa reações de estranheza por parte da platéia. Além da opção do diretor por começar e finalizar o filme com imagens do enterro do músico, enfatizando e colocando como razão do documentário a morte e não a vida de Cartola.

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Luz, câmera, imaginação!

por: Mariana Faria


Oscar Niemeyer – A vida é um sopro é um documentário que, além de mostrar as principais obras e expor os pensamentos do arquiteto, mostra ao público o longo caminho que a imaginação pode percorrer, por si só, e a sua importância para a humanidade.

A impressionante capacidade de criar, inovar e principalmente se diferenciar dos demais, fez de Niemeyer um dos mais influentes arquitetos brasileiros do século XX. Em uma obra rica em depoimentos e imagens, podem-se conhecer não somente as criações que lhe consagraram, como também a trajetória e os ideais de um homem de 100 anos e total lucidez. Além disso, o documentário é um relato histórico do crescimento do país acompanhado passo a passo por Niemeyer, em uma época na qual o arquiteto foi extremamente influente.

O diretor Fabiano Maciel deixa explícita a idéia de que Niemeyer é um arquiteto do mundo, tendo obras espalhadas pelos mais diferentes lugares, de culturas variadas, e ainda assim sendo capazes de se encaixar perfeitamente onde quer que estejam. França, Itália, Estados Unidos e Argélia são alguns dos países que tiveram o privilégio de conhecer a criatividade do arquiteto. Ao longo do documentário o arquiteto explica as idéias e o desenvolvimento dessas obras, abrindo espaço para diversas interpretações.

Ele faz da simplicidade e das linhas curvas o seu ponto de partida e os seus maiores artifícios, processo que é mostrado e explicado no documentário através de desenhos do próprio artista. Niemeyer desenvolve idéias e transforma produtos de sua imaginação em realidade, baseado em belezas como as curvas livres e sensuais do curso dos nossos rios, das nuvens e dos corpos femininos. O arquiteto, aliás, exalta a sua paixão e admiração pelo seu país, principalmente por sua cidade natal, o Rio de Janeiro, e pelo corpo e mente femininos, usando-os como fonte de inspiração.

São mostradas as diferentes visões de um crítico, poeta, político, filósofo, carioca e romântico. O lado humano do arquiteto é mostrado por ele mesmo, com toda a sua irreverência, ironia e inteligência. O título A Vida é Um Sopro é uma frase por ele citada diversas vezes, já acostumado a lidar com a idéia de desenvolvimento e fim uma vida no auge dos seus 100 anos.

Quem assiste ao documentário pode entender que a vida pode sim, ser um sopro ligeiro, mas, através do talento e principalmente da imaginação, muita coisa pode ser feita durante esse tempo. A rapidez de criação e a perfeição do resultado das obras de Niemeyer impressionam até quem nada entende de arquitetura.

As obras do arquiteto são a sua maneira de intervir no mundo, depositando nele, através da arte, a sua paixão, pensamentos de vida e ideais de justiça. Sua trajetória é também uma lição de vida, inspiração e uma nova visão de mundo e de um Brasil que, em todo esse tempo, nunca parou de crescer.

Em Belo Horizonte, Oscar Niemeyer – A vida é um sopro está em cartaz no Espaço Usiminas Belas Artes.

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O sopro da vida

por: Cristina Alkmim
Crédito: divulgação








Cena de "Oscar Niemeyer - A Vida É um Sopro"

Duas histórias se misturam de maneira tão intrínseca que se torna quase impossível diferenciar a ordem cronológica de ambas: a construção de Brasília e a ascensão e glória do ilustre arquiteto moderno Oscar Niemeyer. Relato da vida e da obra do artista, o documentário “Oscar Niemeyer: a vida é um sopro“ confirma a genialidade do artista, hoje com 99 anos de idade, dono de uma memória invejável e uma linguagem única.


O documentário aborda a infância e a adolescência do arquiteto e, posteriormente, abrange sua vida profissional, desde o motivo que o levou a escolher a profissão até os processos de elaboração de seus principais projetos, entre eles a Obra do Berço (seu primeiro projeto), o conjunto arquitetônico da Pampulha, a nova sede federal, o edifício Copan (um dos símbolos da capital paulista), bem como a sede do Partido Comunista Francês e construções em universidade na Argélia, país para onde fora deportado. Constantemente descontraído, Niemeyer fala sobre sua relação com amigos, como Juscelino Kubitschek, mulheres, a arquitetura nacional e transparece não ter superado ainda suas rixas com o célebre arquiteto francês Le Corbusier.

Dirigido por Fabiano Maciel, que também é o roteirista do documentário, os 90 minutos de duração foram produzidos pela Santa Clara Comunicação e filmados em seis cidades do Brasil, além da França, Argélia, Itália e Estados Unidos. O documentarista usa imagens de arquivo, como da época da construção de Brasília, e depoimentos, como do escritor português José Saramago e dos ilustres brasileiros Carlos Heitor Cony e Chico Buarque.

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Samba na fonte

por: Ana Carolina Lima


“Quem não gosta de samba, bom sujeito não é”, diria o compositor Dorival Caymmi. Assistir ao filme Cartola – Música para os olhos é conhecer um pouco da história de um mestre. O grande sambista Cartola. O documentário dos pernambucanos Lírio Ferreira e Hilton Lacerda retrata algumas passagens da vida de Angenor de Oliveira (1908-1980), popularmente conhecido como Cartola. O diretor e o roteirista de Baile Perfumado destacam Cartola como um personagem que seria a síntese da música popular brasileira do século 20, por ser a figura presente nos diferentes períodos da MPB e uma conexão entre diferentes gerações.

O documentário inicia com Jards Macalé lendo em off trechos de Memórias Póstumas de Brás Cubas. Tudo indica que, assim como no livro de Machado de Assis, o protagonista Cartola narrará sua história. Contudo, o recurso narrativo é mais que uma referência ao livro, pois Machado de Assis morreu em 1908, mesmo ano do ano de Cartola. Essa data marca uma transição da cultura acadêmica para o popular. O samba começava a fazer parte da identidade brasileira.

O narrador nos conta um pouco da origem de Cartola. Angenor de Oliveira, como foi batizado, nasceu no bairro do Catete, Rio de Janeiro e, aos 11 anos, mudou-se para Mangueira. Foi lá que conheceu quem seria seu parceiro de samba Carlos Cachaça. Juntos, eles fundariam, em 1928, a Estação Primeira de Mangueira. Cartola viveu seu apogeu nos anos de 1930, quando suas canções foram gravadas por Carmen Miranda e Francisco Alves, ídolos do rádio da época. Após a morte da primeira esposa, nos anos 40, Cartola vive um período de reclusão e se afasta do samba. Os diretores usam do recurso de fade out para retratar esse período de ostracismo. Uma escuridão toma conta da tela e ouve-se apenas depoimentos sobre o compositor.

O documentário tem uma proposta não-linear, com utilização de muitos materiais de arquivo. As imagens reunidas no documentário contam não apenas um pouco da história de Cartola, como um período da história do Brasil. Implicitamente, estão ali às críticas aos períodos considerados marcos na história do país – cenas do filme Terra em Transe, de Glauber Rocha, Getúlio Vargas no Palácio do Catete e imagens que remetem ao período da ditadura militar. Períodos da história brasileira que Cartola presenciou e atravessou cantando seu samba.

Carlola é retratado de forma simples. Os vários depoimentos de sambistas como Carlos Cachaça e Ismael Silva fazem viajar no tempo e levam de volta aos anos 30, quando o carnaval carioca ainda tinha seus blocos nas ruas e o samba não havia caído no gosto das elites.

Assista ao trailer

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